Coordenador do Inova Talentos da Bosch no Brasil, o engenheiro de Tecnologia e Inovação José Velloso considera o programa um dos mais eficientes e menos burocráticos para a realização de projetos de inovação no país. Ele destaca que os bolsistas têm sido fundamentais para o desenvolvimento de novos produtos e participaram de projetos que resultaram em 53 pedidos de patentes da empresa. Em entrevista à Agência CNI de Notícias, Velloso ressalta que um dos aspectos mais positivos do programa é aproximar a companhia das universidades.
O Inova Talentos é uma das principais iniciativas de inovação do Instituto Euvaldo Lodi (IEL). Em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o IEL seleciona bolsistas para atuarem em projetos de pesquisa e desenvolvimento em empresas, com o apoio de consultoria por parte de especialistas da instituição. Criado em 2013, o programa incentiva indústria e universidades a transformarem pesquisas em negócios, produtos e serviços. Confira os principais trechos da entrevista:
– De que forma o Inova Talentos colabora com projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) na Bosch?
JOSÉ VELLOSO – De diversas formas, como a partir da aproximação com as universidades. Muitos bolsistas que participam do Inova Talentos vieram de uma graduação ou de uma pós-graduação, o que acabou deixando a Bosch mais próxima das universidades. Muitos projetos permitiram uma ponte com o professor e a universidade a partir dos próprios bolsistas, o que leva a Bosch a se aproximar da academia vislumbrando uma potencial parceria de pesquisa e desenvolvimento no futuro. Alguns projetos ajudaram a trazer competências específicas para a Bosch, como a inteligência artificial. Os projetos de inovação vêm alavancando a entrada de novos profissionais no nosso quadro de P&D.
– O senhor pode mencionar produtos que foram lançados pela Bosch a partir do trabalho de bolsistas do Inova Talentos?
JOSÉ VELLOSO – Dentro da engenharia automotiva, o tempo de desenvolvimento acaba sendo de cinco ou seis anos. Então, muitos projetos ainda estão em fase de desenvolvimento, mesmo que o bolsista tenha saído. Mas posso listar alguns, como o de pecuária de precisão, um negócio novo para a Bosch, lançado no mercado no ano passado. Lançamos também uma nova geração de bomba de combustível flex, que chamamos de bomba Evo; um novo modelo do sensor de nível de combustível; e uma nova geração do nosso produto da FlexStart, no qual substituímos o tanquinho de gasolina por um sistema de aquecimento do combustível, para eliminar o sistema de partida frio nos carros que usam o etanol. Também menciono um produto que ainda não está no mercado, mas que está em fase avançada, que é o de embreagem eletrônica. Em todos esses projetos, houve participação de bolsistas do Inova Talentos.
– O senhor pode explicar o que é a embreagem eletrônica?
JOSÉ VELLOSO – É um sistema desenvolvido para acionar eletronicamente a embreagem. Além de proporcionar mais conforto ao usuário, a tecnologia possibilita economia de combustível, podendo chegar a um índice de até 5% em um circuito misto entre cidade e estrada. O acionamento da embreagem é feito eletronicamente e a troca da marcha é realizada de forma manual. Fizemos um lançamento para mostrarmos ao mercado que temos essa tecnologia em desenvolvimento. Mas somos uma empresa sistemista, que faz o desenvolvimento, mas quem aplica é a montadora. Essa é uma possibilidade para as montadoras.
– Quantos bolsistas do Inova Talentos já passaram pela empresa e quantos foram contratados?
JOSÉ VELLOSO – A gente teve 129 bolsas aprovadas do Inova Talentos, desde a primeira chamada em 2013. Contratamos 25 desses profissionais ao longo dos anos. Eles foram alocados tanto em Campinas quanto em Curitiba.
– Qual o número de patentes requeridas a partir de projetos com participação de bolsistas do Inova Talentos?
JOSÉ VELLOSO – São 53 pedidos de patentes decorrentes de projetos que tiveram participação de bolsistas. Hoje, a média é de 20 patentes solicitadas por ano. É um número muito expressivo para o Brasil. Considerando que tivemos só quatro anos de Inova Talentos e considerando que o Brasil leva em média de 8 a 10 anos para analisar e dar uma decisão sobre o pedido, não há patentes concedidas por enquanto.
– O senhor pode compartilhar outros indicadores relativos ao Inova Talentos na Bosch? Por exemplo, acréscimo de recursos humanos qualificados na área de P&D da empresa?
JOSÉ VELLOSO – Se eu colocar que tenho cerca de 25 a 30 profissionais por ano trabalhando em projeto de inovação como bolsista, temos um acréscimo de mais de 5% na força de P&D na organização. Esse é um número significativo para a Bosch. 5% do nosso quadro atual de pesquisadores foram contratados a partir do Inova Talentos. Para nós, o programa também é uma ótima fonte de recrutamento, para achar bons profissionais. Temos outros indicadores – hoje, 100% dos tutores estão satisfeitos com o grau de desempenho do bolsista, ou seja, há uma satisfação muito grande em relação às qualidades técnica e gerencial do pessoal; 70% das divisões de negócios já tiveram ou estão com bolsistas, o que demonstra como o uso do Inova Talentos é difundido nas nossas unidades de negócios.
– Quais os benefícios do programa para o bolsista?
JOSÉ VELLOSO – É uma oportunidade muito boa para se preparar para o mercado de trabalho. Um dos objetivos levantados lá atrás, na MEI (Mobilização Empresarial pela Inovação), era de que precisávamos de profissionais qualificados no mercado. A dedicação aos projetos de inovação é um diferencial nosso e do próprio programa. Dentro da empresa, fazemos uma integração para que o profissional não só participe do projeto, mas conheça a Bosch como forma de aprendizado. Em muitos casos, o Inova Talentos acaba sendo a inserção do profissional no mercado de trabalho. E ingressar em uma grande empresa, trabalhando em um projeto de inovação, sem dúvida abre portas. A própria capacitação dentro de metodologias que temos internamente de inovação e de projetos de P&D acaba sendo um ponto favorável para o bolsista. A vivência dentro da organização é um diferencial para ele continuar na empresa ou para buscar uma contratação no mercado.
– Quais são as áreas de formação mais requisitadas?
JOSÉ VELLOSO – Mais de 80% dos nossos bolsistas são engenheiros, nas áreas elétrica, mecânica, de automação e de computação. Mas temos também administradores. Contratamos uma veterinária em um projeto de pecuária. Profissionais de design, cientistas de dados e especialistas da área de IoT (inernet das coisas) também passaram pela Bosch no Brasil por meio do Inova Talentos.
– A Bosch indica o Inova Talentos para outras empresas?
JOSÉ VELLOSO – Sim. A gente indica bastante. Para nós é muito bom que outras organizações utilizem o programa, pois acaba sendo uma ferramenta para se buscar profissionais no mercado. O programa é um dos mais eficientes e menos burocráticos que existem hoje.
Com Agência CNI de notícias