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O Brasil registrou deflação pelo segundo mês consecutivo. Mas, num país que ainda guarda fresca na memória a hiperinflação dos anos 80 e 90, pode ser difícil entender por que a crise atual tem o efeito oposto – e por que, ainda assim, os preços parecem estar subindo.
Vamos explicar , acompanhe.
Como assim, a inflação não está nas alturas?
Se você tem mais de 35 anos, vai se lembrar da hiperinflação. Se não tem, basta perguntar para uma pessoa mais velha. Ela vai te contar de quando ia ao mercado (criança ou adulta) assim que o dinheiro entrava e tinha que correr para pegar os produtos antes que os preços fossem remarcados.
Essa época deixou um trauma no brasileiro. Entre os anos 80 e 90, a inflação chegou a superar os 80% ao mês. Os preços subiam descontroladamente, o poder de compra diminuía de um minuto para o outro. Quando isso acontece, os valores deixam de fazer sentido. Fica impossível saber o que dá para comprar com 10 dinheiros: uma pizza ou um chiclete.
Para muita gente, crise passou a ser sinônimo de inflação. Tanto é que “fantasma da inflação” virou um termo comum, que dá as caras nos noticiários sempre que os índices de preços começam a registrar altas acima do esperado.
Mas não é isso que acontece na crise atual. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal indicador da inflação no Brasil, registrou em maio uma queda de 0,38%, indicando uma deflação (entenda ela em detalhes aqui).
O IPCA mede a variação de preços de produtos e serviços. Ele é calculado mensalmente pelo IBGE e abrange vários itens do dia a dia, como feijão e gasolina. Uma retração no IPCA significa, em linhas gerais, que a média dos preços está caindo em vez de aumentando.
Isso é bom, certo? Nesse momento, não. Essa diminuição de maio é o maior tombo do IPCA nos últimos 22 anos e um indicativo de que a economia desacelerou devido à pandemia do novo coronavírus.
Nem tudo caiu. O IPCA reflete uma média de vários produtos e serviços e o resultado do último mês foi fortemente puxado para baixo pela queda do preço de combustíveis, impactados pelas restrições de viagens e baixa circulação de veículos. A gasolina, o diesel e o etanol caíram 4,35%, 6,44% e 5,96%, respectivamente.
Os preços de alimentos subiram. A rotina de comer em casa aumentou e isso se refletiu nos mercados – foi uma alta de 0,24% no mês. Olhando o acumulado dos últimos 12 meses, já são 6,48%.
O impacto disso é pior na população de baixa renda. Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), divulgada pelo IBGE, famílias que recebem até dois salários mínimos destinam 22% de sua renda a comprar comida e 9,4% para transportes – ou seja, gastam mais dinheiro com aquilo que vem subindo.
Essa também é a camada mais afetada pelo desemprego. Em abril, de acordo com o IBGE, 4,9 milhões de brasileiros perderam o emprego – e 3,7 milhões deles eram trabalhadores informais.
O que isso significa para o futuro? As expectativas atuais são de uma retomada lenta da economia, que levará vários meses para começar a se estabilizar – e depende, ainda, do desenvolvimento de medidas mais eficazes de combate ao Covid-19, como uma vacina.
A maior parte do mundo deve passar por um processo parecido. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) prevê uma recessão global de pelo menos 6% em 2020.
Nessa semana tem reunião do Copom.
O resultado do IPCA de maio pode colaborar para que o Banco Central decida abaixar ainda mais a Taxa Selic, atualmente em 3%. Ao diminuir a Selic, o acesso ao dinheiro (crédito, empréstimos, financiamentos…) fica maior, estimulando o consumidor a gastar e aquecendo a economia.
fonte Nubank