Com alto nível de complexidade, a indústria petrolífera movimenta cifras astronômicas ao redor do mundo. No Brasil depois de uma crise que durou cerca de 3 anos e envolveu empresas expressivas da área, o país voltou ao jogo e passou a ser o foco dos investimentos, voltando a gerar empregos no setor.
A chegada à Macaé da ExxonMobil e da Shell confirmam esse novo ciclo de investimentos, ratificado pelo sucesso da décima e histórica edição da Feira Brasil Offshore, que aconteceu em Macaé em julho.
“A competitividade abre o mercado brasileiro para investimentos além da Petrobras. E isso desencadeia uma série de negócios que movimentam, desde a exploração e produção, até o processamento e o refino. Esse é apenas o início de uma verdadeira transformação que a atividade do petróleo vive no país”, avaliou o Secretário Executivo da Associação brasileira das Empresas de Serviços do Petróleo (ABESPetro) , Gilson Coelho (foto), em entrevista à imprensa local.
Empregos em cascata
Na visão de especialistas da Firjan, cada emprego gerado no mercado offshore é responsável pela criação de outros dois postos de trabalho em terra e de apoio, gerando consequentemente mais oito vagas indiretas de emprego. isso faz com que a expectativa para a indústria de petróleo do Rio de Janeiro seja de mais de 100 mil novos postos de trabalho.
A expectativa mais pessimista indica que até 2026 o número de trabalhadores no mercado offshore vai dobrar. “Cada bilhão de investimento representa 25 mil empregos diretos”, afirma Gilson Coelho.
com mais de 45 empresas nacionais e internacionais de grande porte operando na Bacia de Campos a quantidade de empregos gerados na região seria suficiente para erradicar o desempego que assola cidades como Campos, Macaé e Cabo Frio.
Essa realidade, porém, não se confirma, pois o mercado offshore exige especialização mínima dos candidatos, e os municípios fazem muito pouco para qualificar seus jovens para ocupar essas vagas que serão responsáveis por injetar dinheiro na economia das cidades, através do comércio e da contratação de serviços da iniciativa privada.
Qual o papel da ABESPetro na atividade offshore de exploração de petróleo?
Dentro do ciclo de vida do petróleo a etapa de Exploração e Produção (E&P) desempenha um papel da maior importância, pois é a responsável pela articulação de quatro grandes eixos que permitem encontrar as reservas; construir toda a infraestrutura; extrair o petróleo e gás; e, ao fim, desativar e desmobilizar a infraestrutura.
Nesse sentido, as empresas associadas da ABESPetro é que são as grandes responsáveis por executar essas atividades, e por isso são chamadas de fornecedoras especializadas de bens e serviços de E&P. Perfurar poços, projetar, fabricar e instalar os equipamentos, realizar atividades de apoio logístico e campanhas de levantamento de dados geofísicos, são todos exemplos de papéis desempenhados por nossas associadas.
A ABESPetro, enquanto a principal associação de classe do setor de bens e serviços de E&P, atua com a finalidade de representar os interesses gerais e coletivos das empresas desse segmento perante órgãos e entidades públicas e privadas, sempre visando ao desenvolvimento de novas tecnologias, a cooperação técnica e a geração de conteúdos de qualidade, de forma a ressaltar a importância dos investimentos realizados por essas empresas para a criação de empregos, renda, e arrecadação governamental para o Brasil.
A Associação congrega apenas empresas operando no Rio de Janeiro? Quantos associados tem a Entidade?
A associadas da ABESPetro estão presentes em quase todo o território nacional, principalmente nos Estados produtores de petróleo, tais como Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Paraná, Bahia, Rio Grande do Norte, Sergipe e outros. Atualmente a associação possui 46 empresas associadas.
É válido dizer que o Brasil está entrando em um novo “ciclo do petróleo”?
Para a ABESPetro, o cenário que se desenha é muito animador, tendo em vista os avanços que tivemos na política de Conteúdo Local, Repetro e pluralidade de petroleiras no pré-sal, temos alguns outros desafios pela frente mas o termômetro é de reaquecimento do setor.
O novo ciclo do petróleo é o retrato de 2 trilhões de Reais de investimentos em E&P, contribuindo com R$ 480 Bi em Royalties e Participação Especial até 2054, tendo em vista os contratos que já foram firmados atualmente.
Só no Estado do Rio de Janeiro a participação dos royalties baterá um recorde esse ano, com cifras que giram entre 14 a 16 bilhões de Reais. Para os próximos anos, contamos ainda com a contração de 20 novos FPSO´s, mantendo a média de três por ano, ou seja, 35% da demanda mundial.
Além disso, a expectativa é que com o próximo leilão da cessão onerosa a produção de petróleo no Brasil alcance a marca de 6.3 Milhões de BOE dia.
Qual a expectativa, em investimentos e empregos, para a Bacia de Campos nos próximos anos?
No caso da Bacia de Campos, uma questão que precisa ser amplamente debatida diz respeito aos campos maduros e há dois fatores essenciais para atrair investimentos e empregos: desinvestimentos da Petrobras, possibilitando que outras empresas com fluxo de caixa realizem investimentos, além da necessidade de avanços regulatórios.
No ano passado, por exemplo, a Equinor pagou US$ 2,9 bilhões por uma participação de 25% no campo de Roncador, localizado na Bacia de Campos.
Hoje a Bacia de Campos tem Fator de Recuperação em torno de 14% podendo chegar a 23%, o que ainda é longe da média mundial de 35%. Entretanto, segundo dados da ANP, se tivermos um aumento do fator de recuperação em apenas 5%, a consequência é a geração de investimentos da ordem de R$ 360 bilhões, com mais de 200 milhões em royalties.
Podemos destravar imediatamente novos investimentos e empregos através do aumento no fator de recuperação dos campos maduros e esta é uma janela de oportunidade que não pode ser perdida.
Como esse fenômeno, que envolve cifras bilionárias em investimentos, poderia ajudar a resolver os problemas mais básicos da população local, como o desemprego?
Em decorrência de todos os investimentos previstos é necessário criar cada vez mais empregos, sem o qual nada é possível. Lembrando que de acordo com um estudo da UFRJ sobre a relação investimento/emprego, a cada bilhão de dólar em investimentos há uma geração de 25 mil empregos no setor.
Hoje, a cada posto de trabalho criado nas empresas de bens e serviços de petróleo, 10 outros são originados na economia – destes, dois são nas camadas de fornecedores diretos e indiretos e, os outros oito, são por efeito renda.
Entre 2011 e 2014 o setor possuía cerca de 800 mil empregos diretos e indiretos, mas por conta de fatores políticos e regulatórios esse número caiu para menos de 400 mil em 2017. Com os novos investimentos a ABESPetro acredita que o setor poderá gerar mais de 700 mil empregos até 2026, retornando aos patamares dos melhores anos do setor petrolífero nacional.
O senhor considera que preparar os jovens para ingressar no mercado offshore é trabalho apenas das prefeituras? Como a ABESPetro e seus associados podem ajudar nessa tarefa?
A ABESPetro não acredita que o trabalho de preparar os jovens seja apenas das Prefeituras ou do Estado em geral, pelo contrário, é necessário que as empresas atuem em conjunto por meio de iniciativas que despertem nos jovens o interesse pelo setor.
O setor de petróleo é um mercado altamente especializado e que demanda de seus funcionários um nível alto de qualificação, tendo em vista os riscos do próprio negócio, por isso a participação das empresas na formação e inclusão dos jovens no mercado de trabalho é fundamental.
Qual o nível de participação de empresas locais nas atividades offshore na Bacia de Campos? Existe brecha para uma participação mais efetiva nos muitos segmentos demandados pelo setor? Quais seriam os segmentos que poderiam se beneficiar?
Uma vez iniciado um projeto de Exploração e Produção de petróleo e gás, surge imediatamente a necessidade de articular e conectar outros fornecedores industriais e locais para prover todos os recursos necessários à operação. Para dar um exemplo, as empresas da ABESPetro conectam uma série de fornecedores que vai desde construção naval, equipamentos elétricos, siderurgia, módulos e sistemas, produtos químicos, tecnologia da informação, tubos, componentes, até toda uma cadeia de redes hoteleiras, comércios, restaurantes, transporte, etc.
Além disso, a consequente redução da interdependência da Petrobras terá como efeito a diversificação das opções para a cadeia local de fornecedores e prestadores de serviços. Avaliamos que será um período em que teremos oportunidade de fortalecer o sistema de fornecedores por seu envolvimento tanto nas etapas de engenharia quanto na construção e operação dos FPSOs.
Fonte: Redação/Assessoria ACIA – Cabo Frio