Está começando um vultoso projeto visando ao desenvolvimento de leveduras especiais para etanol de primeira e segunda geração, e também etanol de milho, dentro de convênio firmado entre a Unicamp e a estatal chinesa Sinochem, um conglomerado químico e de energia que vem atuando desde 2011 no Brasil. As pesquisas serão conduzidas no Laboratório de Genômica e Expressão (LGE), que recebeu um investimento da ordem de R$ 4,7 milhões provenientes da cláusula de investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação constantes dos contratos de exploração, desenvolvimento e produção de petróleo e gás (Lei nº 9.478/1997). O contrato tem duração de 24 meses.
“O etanol é a molécula que vai viabilizar a substituição do petróleo. A Sinochem é gigante na área de petróleo, mas reconhece que será preciso fazer a transição da fonte fóssil para a fonte renovável. A empresa quer estar preparada para atuar nesse novo mundo”, explica o professor Gonçalo Amarante Guimarães Pereira, coordenador do LGE. “Pela experiência do nosso laboratório, imagino que neste projeto consigamos produtos objetivos para serem colocados no mercado, com o desenvolvimento de usinas que vão ser o futuro da transição do negócio da empresa, do petróleo para a bioenergia.”
Thiago Rodrigues, chefe de Staff da Sinochem, informou ao reitor Marcelo Knobel que a empresa possui 40% do Consórcio de Peregrino, na bacia de Campos, que é o oitavo em produção no país e operado pela norueguesa Equinor. “Atualmente, a Sinochem enxerga a necessidade de diversificação do portfólio, tentando entrar no mercado de energias renováveis. O objetivo é gerar tecnologia proprietária para aplicação comercial, transformando P&D em negócio aqui no Brasil. Selecionamos alguns parceiros e este projeto com a Unicamp está muito bem ranqueado, apostamos bastante que vai render bons frutos.”
Ao saber que a Sinochem está sediada no Rio de Janeiro, Marcelo Knobel brincou que a empresa deveria vir para Campinas, inclusive porque a Unicamp está com mil alunos de mandarim. “Também temos bons grupos trabalhando e empresas chinesas se instalando aqui. Costumo dizer que é importante começar uma parceria sempre com um pé após o outro, devagar, para não provocar correria e ir estabelecendo essa confiança, que é fundamental. Agradeço a confiança no nosso time, que vai se dedicar ao assunto e, com certeza, terá bons resultados.”
O professor Marco Aurélio Pinheiro Lima, responsável pelo plano diretor para a fazenda Argentina, área contígua ao campus de Barão Geraldo adquirida pela Unicamp, ofereceu-se para visitar a sede da Sinochem e explicar como está sendo construído o Hub Internacional de Desenvolvimento Sustentável em Campinas. “A cidade abraçou o projeto fortemente e, ao invés de ser um território da Universidade, já é de toda a vizinhança, onde estão o CNPEM e seu laboratório de bioetanol, o centro de dados do Santander e o CPQD. É um território cujo espírito de desenvolvimento é a tecnologia do futuro.”
Etanol de milho
Questionado pelo reitor da Unicamp sobre o desafio da Sinochem diante da guerra comercial entre Estados Unidos e China, Thiago Rodrigues disse que a empresa vê a questão como uma oportunidade. “Por isso, estamos olhando com tanto cuidado para o biocombustível. Adicionamos o milho a este projeto, que antes só envolvia a cana, justamente porque o etanol americano sempre abasteceu a China , mas recentemente, por causa da taxação, o combustível tem chegado muito caro. Inclusive, várias empresas daqui já começaram a exportar etanol para lá.”
O professor Gonçalo Pereira observa que o Brasil começou a produzir etanol de milho há apenas quatro anos e, em 2019, já deve chegar a quase 1,8 bilhão de litros. “A expectativa é que em dez anos a produção alcance de 8 a 10 bilhões de litros. A região central do país passou a produzir muito milho, e bem barato (a metade do preço nos Estados Unidos), o que levou os americanos a instalarem usinas aqui. Os brasileiros perceberam e agora estão produzindo milho na entressafra da soja (o chamado milho safrinha), sem necessidade de expansão de áreas. Outro detalhe é que para produzir o etanol de milho, os americanos usam nas usinas o gás natural (carbono fóssil que vem do petróleo), enquanto nós usamos eucalipto. Além de barato, o nosso é muito mais limpo, totalmente renovável.”
Segundo João Monnerat, especialista em Biocombustíveis e Desenvolvimento de Novos Negócios da Sinochem, a escolha da Unicamp como parceira deve-se ao seu reconhecimento entre as melhores instituições tanto do ponto de vista científico como de integração com a indústria. “O grupo do professor Gonçalo, particularmente, teve grande papel na indústria de etanol de segunda geração para o Brasil – o que é um assunto cada vez mais relevante. As pesquisas feitas no laboratório resultaram em inovações que estão aplicadas em chão de fábrica e a nossa ideia é a mesma: a partir de P&D, gerar valor para nossos novos negócios na área de biocombustíveis”.
Pela estatal chinesa, também participaram da reunião de anúncio do convênio Ferlaque Fonseca, analista de projetos, e Glauce Nascimento, coordenadora de projetos no Brasil.
Fonte: Unicamp Notícias