Os produtores de Queijo Canastra têm alta expectativa de aumentar o mercado para seus produtos nos próximos anos. Eles acreditam que o Selo Arte, recentemente criado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), resultará na ampliação da base de produtores locais e na inovação da fabricação, inclusive para atender a gastronomia que cria pratos com alimentos tipicamente brasileiros.
A avaliação é de João Carlos Leite, presidente Associação dos Produtores de Queijo Canastra – Aprocan. Ele calcula que, dos atuais 60 produtores formalizados, o número de produtores salte para 800. Para além de mais fabricantes, e mais sabores na culinária nacional, Leite acredita que o principal efeito da medida será social.
“O Selo Arte cria novo modelo de negócio para o queijo no Brasil. Um modelo que distribuí renda, favorece a qualidade de vida dos produtores”, assinala contrapondo a produção artesanal à produção industrial, em que poucos fabricantes tinham acesso a vender seus queijos em todo o país. “Ganhamos o direito de beneficiar a matéria prima, de criar valor e comercializar a nível nacional”, comemora.
A animação de João Carlos Leite, que mora em São Roque de Minas, um dos sete municípios que formam a área delimitada pela indicação de “Procedência Canastra”, é compartilhada a 700 km pela empresária Marina Altafin Cavechia, que em seu bar em Brasília vende queijos próprios e de fornecedores artesanais.
Antes do decreto, a distância entre cidades em estados diferentes era um grande limitador para a circulação de mercadoria. Por causa da legislação anterior, “muitos produtores tinham medo de fazer chegar seu queijo a outros lugares além do seu município”, comenta a empresária ao citar que nasceu em Minas Gerais mas só veio a conhecer o queijo Canastra há cinco anos.
Para Cavechia, a criação do Selo Arte simplifica a vida de produtores e revendedores e foi feita também em benefício dos consumidores. Ela ressalta que o Decreto nº 9.918, que trata da fiscalização de produtos alimentícios artesanais, não relaxa nas normas fitossanitárias e de garantia de qualidade, mas reconhece o controle dos estados.
“A certificação do estado vai garantir que, dispondo do Selo Arte, o queijo possa sair e ser vendido em outros lugares do Brasil”.
Preço
O advogado especializado em Direito Administrativo Regulatório Fernando Carvalho Dantas tem confiança que em breve haverá oferta de queijos artesanais nas gôndolas dos supermercados e não apenas em bares e lojas especializadas como de Cavechia.
Segundo ele, a expansão dos pontos de venda deve aumentar a oferta queijo e favorecer a redução dos preços finais. “Quando o produtor consegue ofertar em mais mercados, acaba ganhando em escala. Quando consegue operar em escala maior tende a ter produtos mais baratos”, comenta.
O presidente da Aprocan, João Carlos Leite, não acredita que os preços dos queijos possam reduzir porque não haverá de imediato ampliação da capacidade de produção. “Ninguém na associação hoje tem queijo. Todo mundo só consegue entregar para daqui a 30, 40 e até 60 dias. Nós não estávamos preparados para atender o mercado que está em alta. O aumento da produção leva tempo”.
João tem esperança que o Selo Arte incentive a entrada de mais produtores. Mais fabricantes podem inclusive ajudar eventual venda para o mercado internacional. Segundo ele, o acordo entre Mercosul e União Europeia pode dar acesso a consumidores fora do Brasil. Queijos artesanais brasileiros ganharam 59 medalhas na Feira Mondial du Fromage em Tours (4ª edição), que aconteceu no mês passado em Paris.
O Queijo Canastra é patrimônio imaterial do Brasil, e está inscrito há mais de 10 anos no Livro de Registro dos Saberes do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan).
Além dos produtores de queijo, o Selo Arte também poderá certificar derivados de carne (embutidos, linguiças, defumados) e de pescados (defumados, linguiças). A previsão do Mapa é estender em 2020 o selo para mel, própolis e cera feita por apicultores.