Pelo menos 40% dos internautas já ouviram algum podcast, conforme apontou uma pesquisa do Ibope divulgada no mês passado. Já segundo a Associação Brasileira de Podcasts (ABPOD), mais da metade dos ouvintes brasileiros de podcasts ouvem conteúdo neste formato diariamente. O crescimento do consumo de podcasts não passa despercebido pelas produtoras audiovisuais. Embora a execução e criação de conteúdo em áudio seja historicamente dominada por produtoras especializadas, produtoras de vídeo cada vez mais se interessam pelo formato uma nova fonte de experimentação — e potencialmente de receitas.
A Barry Company lançou no início de abril seu primeiro podcast original, chamado Sonzêra FC. O projeto, que aborda a confluência entre o futebol e o rock, reúne semanalmente Maurício Barros, Eduardo Tironi e João Gonzales, jornalistas da ESPN Brasil; Lúcio Ribeiro, fundador da plataforma musical Popload; e o jornalista Rogério Andrade.
A Barry deve anunciar mais quatro podcasts originais até o final do ano, contando também com uma parceria com a Half Deaf, uma das principais produtoras do gênero do País. “No fundo, o podcast é um meio pra história que queremos contar. A HBO lançou recentemente uma ótima série documental, chamada O caso contra Adnan Sayed, que nasceu a partir de um podcast famoso nos EUA, o Serial. Homecoming, da Amazon, também fez o mesmo caminho”, contextualiza o head de conteúdo José Francisco Tapajós. Sobre o Sonzêra FC, ele conta que, apesar de há pouco tempo no ar, o podcast já está atraindo personalidades e marcas parceiras, a serem anunciadas em breve.
A Conspiração Filmes planeja lançar este ano pelo menos cinco podcasts originais por meio da plataforma Hysteria. Um deles será um podcast de ficção criado para a Buscofem, projeto de branded content que terá como tema os ciclos femininos. Com previsão para ter um episódio a cada 28 dias, o projeto narrará nove contos inéditos de escritoras brasileiras – entre elas Jarid Arraes, Paula Gicovate, Luisa Geisler e Aline Valek. A produtora está desenvolvendo outros quatro podcasts para a empresa sueca Storytel, especializada em podcasts e audiolivros, que chega ao Brasil este ano. A plataforma também participa de uma ação da Hysteria na Flip, em Paraty (RJ), em julho.
Isabel De Luca, diretora do Hysteria, acredita que os podcasts abrem novas oportunidades de exploração de propriedade intelectual para produtoras. “O podcast se apresenta como um novo caminho para autores e roteiristas. Investimos neste formato desde o início da nossa história – tanto em criações próprias quanto em curadoria de podcasts de terceiros”, relembra.
Desde o final de 2017, o núcleo da Hysteria lançou mais de 150 episódios de podcasts — todos eles produzidos por mulheres. O primeiro projeto original, Prato Frio, foi lançado no ano passado em coprodução com o Spotify.
Já a produtora Play it Again tem investido na produção de projetos externos, entre eles o podcast de entretenimento Rádio Cachola, programa de entrevistas sobre criatividade, e podcasts institucionais para clientes como Caixa e Instituto Net Claro Embratel. A produtora também estuda um novo projeto com o radialista Eli Corrêa.
“Costumamos nos interessar mais por podcasts de entretenimento ou que envolvam alguma criação sonora, algo mais próximo do que era a rádio-novela”, conta André Minassian, produtor executivo da Play it Again. “Em essência, é um formato que sempre existiu. O que mudou foi a maneira de ouvir, com a adesão às plataformas. O desafio é muito similar ao da rádio, de produzir uma trilha, de pensar em detalhes como a entonação da voz e a maneira de passar uma mensagem ao público com o qual você quer comunicar”, explica André.
Uma vez que podcasts são um formato em amadurecimento, a maior dificuldade para produtoras é rentabilizar os projetos. “O podcast está começando a entrar só agora no radar das agências e marcas, de uma maneira geral. Os números do mercado ainda não são consolidados no Brasil e há uma certa dificuldade em mensurar esse investimento, mas creio que é só uma questão de tempo até que isso se resolva”, opina José Francisco, da Barry Company.
Fonte: Meio&Mensagem