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Trabalhar em casa tanto no setor público ou privado depende de mudança cultural, dizem especialistas

A adoção do tele trabalho em larga escala ainda depende de mudanças culturais tanto das empresas e demais empregadores quanto dos gestores públicos, segundo os especialistas que participaram hoje (16) em audiência pública na Câmara Municipal de São Paulo. Um grupo de trabalho vem elaborando o texto com incentivos para o trabalho a distância, e deverá divulgar a primeira versão no final de junho.

“Existe muito na cabeça do gestor achar que, para o cara trabalhar a distância, tem que ficar olhando para ver se ele está trabalhando”, disse o presidente da Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades (Sobratt), Cléo Carneiro, sobre hábitos que precisam ser superados.

Carneiro destacou que são muitos os benefícios adquiridos no caso de trabalho em casa ou a partir de espaços mais próximos das residências, como escritórios coletivos de trabalho (coworking). “As pesquisas mostram que por essas razões a produtividade aumenta”, ressaltou.

Pesquisa divulgada em 2017 pela organização não governamental Nossa São Paulo mostrou que 34% dos residentes na cidade de São Paulo gastam entre 1 e 2 horas para se descolar de casa para o trabalho. A média dos deslocamentos diários ficou em 2h02 para os que usam carro e de 2h11 para os passageiros do transporte público. Entre os entrevistados, 17% disseram que estudam ou trabalham em casa.
Para o presidente da Sobratt, a melhora no desempenho dos trabalhadores está diretamente ligada aos ganhos de qualidade de vida. “Melhoria da qualidade de vida das pessoas, através da eliminação do tempo de deslocamento, eliminação do stress do trânsito, aumento do tempo para se dedicar à família, desenvolvimento profissional”, disse, ao relacionar o trabalho remoto a uma redução dos congestionamentos nas grandes cidades.

Mudanças

O especialista em mobilidade urbana da organização não governamental WRI, Guillermo Petzhold, defende que os empregadores precisam incorporar essa nova maneira de produzir para que possam ocorrer mudanças. “As organizações, sejam empresas privadas ou a prefeitura, que é um dos maiores empregadores da cidade, também têm papel fundamental em influenciar a forma como a gente se desloca”, ressaltou.
Petzhold disse que o Poder Público tem papel importante para redirecionar os recursos investidos atualmente no transporte individual. “Também precisa de um trabalho de mudança cultural de incentivos econômicos e de políticas públicas para que isso seja implementado e gere benefícios para as nossas cidades”, acrescentou.

Legislação

Existem diversas ferramentas que permitem acompanhar o trabalho dos funcionários mesmo à distância, segundo o vice-presidente da empresa Mutant, Thiago Paretti. A empresa é especializada em desenvolver aplicativos para esse tipo de sistema. “O colaborador coloca o dedo e se loga [entra no sistema]. Em tempos randômicos (aleatórios), o aplicativo solicita que o trabalhador coloque o dedo novamente para verificar se é ele mesmo durante todo o horário de trabalho”, exemplificou, sobre tecnologias que permitem não só o monitoramento como a comunicação remota.

Os possíveis riscos jurídicos aos empregados com o trabalho não presencial foram bastante reduzidos com a nova legislação trabalhista aprovada no ano passado, de acordo com o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação, Sérgio Galindo. “Agora, a gente tem uma nova avenida. Com a aprovação da reforma trabalhista conseguimos reduzir drasticamente o risco jurídico que Havia no teletrabalho. O trabalho à distância agora está na CLT [Consolidação das Leis do Trabalho]”.

Petrobras já implantou regime de teletrabalho

O presidente da Petrobras, Pedro Parente, vai dar um tiro de morte na “Petrossauro”. A empresa, sob sua gestão, está promovendo silenciosamente a maior revolução digital do trabalho que já se viu na esfera do Estado e dificilmente comparável mesmo entre corporações do setor privado. A Petrobras vai implementar o regime de teletrabalho, que permitirá a seus funcionários atuarem de forma remota em alguns dias da semana. O projeto-piloto será implementado de forma gradativa, em cinco “ondas”, com a meta de atingir 1,2 mil empregados até outubro.

A primeira “onda”, começou em fevereiro, envolveu 200 funcionários do RH e do departamento jurídico. A segunda, 100 trabalhadores das equipes de responsabilidade social e saúde, meio ambiente e segurança (SMS). A terceira etapa atingirá 150 pessoas da área de projetos de sistemas de superfície. A quarta e a quintas fases englobarão, respectivamente, 300 e 450 colaboradores, das áreas de Gestão Integrada de Exploração & Produção, Refino & Gás, Comunicação, Estratégia, Finanças, Conformidade e Tecnologia da Informação.
Após estudos internos, todas estas gerências foram consideradas compatíveis com o teletrabalho, com uma quantidade de empregados em regime administrativo flexível no Rio de Janeiro adequada à capacidade tecnológica de cada onda e vistas como da diversidade de atividades e perfis da Petrobras. Ou seja: trata-se de uma amostragem cujos resultados servirão de termômetro para a expansão do projeto a outras áreas.

A implementação da proposta traz a reboque alguns desafios para a Petrobras, a começar pela forma de controle das horas efetivamente trabalhadas e do nível de produtividade dos funcionários que aderirem ao novo sistema. Ao mesmo tempo, o projeto é uma adaga de dois gumes. Por um lado, é a prova de que uma estatal pode ser eficiente independentemente da sua origem; por outro, também pode ser interpretado como a evidência de que tudo está sendo feito para que ela deixe de ser uma estatal. Vai depender do gosto do freguês.
O regime de teletrabalho chegou a ser discutido em 2015, ainda na gestão de Aldemir Bendine. No entanto, a ideia acabou engavetada em meio à reestruturação da companhia e, sobretudo, ao tratamento das chagas descobertas pela Lava Jato. O projeto voltou à ordem do dia no ano passado, seguindo algumas premissas. O novo modelo estará disponível para todos os empregados em regime administrativo flexível (com ou sem função gratificada), terá adesão voluntária, com o limite de até três dias por semana. Ressalte-se que não haverá qualquer custo adicional para a estatal.

Inicialmente, o projeto-piloto foi idealizado para um público-alvo de até 2,5 mil funcionários. No entanto, a Petrobras teve de readequar o programa por recomendação da área de tecnologia. O sistema de TI da companhia só dispõe de 1,5 mil licenças de acesso remoto simultâneo. Desse total, cerca de 1,1 mil de autorizações vêm sendo utilizadas sistematicamente em horários de pico, o que deixa uma margem de apenas 400 novas licenças. Por isso, a opção de implantação do projeto em “ondas”,uma forma calculada de mitigar riscos e dar tempo para que a estatal possa estimar o custo de criação das licenças adicionais e a viabilidade econômica não só do projeto-piloto, mas da sua extensão para o maior número possível de funcionários.

O legado digital-trabalhista de Pedro Parente poderá atingir, já em 2019, cerca de 20 mil funcionários. Este é o público-elegível para o teletrabalho projetado pela estatal para o próximo ano. A companhia já está calculando o investimento necessário, notadamente em infraestrutura tecnológica, para alcançar este universo. Trata-se de uma contribuição da Petrobras que eventualmente poderá ser estendida a outras empresas do setor público.

O projeto-piloto da petroleira dará respostas determinantes que vão da otimização das despesas operacionais ao interesse dos empregados pelo regime de teletrabalho, os dias da semana mais requisitados, a adaptação do funcionário e os ganhos de produtividade.

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