Equilibrio entre valor financeiro e valores e princípios. Esse é o desafio de grande parte das empresas que, nos últimos anos, focaram em seus processos de transformação digital, mas basearam essas mudanças integralmente em tecnologia. De acordo com a edição 2020 do estudo “Technology Vision”, da Accenture, o realinhamento do desejo pela criação de valor comercial nas grandes companhias com os valores e expectativas de seus clientes e colaboradores será predominante nos próximos anos.
“Deslumbradas com as promessas da tecnologia, muitas empresas criaram produtos e serviços digitais por criar, simplesmente porque podiam, sem considerar integralmente o impacto humano, organizacional e social,” explica Paul Daugherty, Chief Technology&Innovation Officer da Accenture. “Hoje, estamos testemunhando um choque tecnológico provocado pela tensão entre as expectativas dos consumidores, o potencial da tecnologia e as ambições de negócios — que se encontram num ponto crucial de inflexão das lideranças.
Precisamos mudar nossa mentalidade do ‘porque posso’ para ‘porque confio’ — reavaliando nossos modelos de negócios e de tecnologia, criando uma base para concorrência e crescimento”, explica.
Intitulado “Nós, os pós-digitais: sua empresa consegue sobreviver ao choque tecnológico?”, o estudo mostra que, ainda que a tecnologia esteja mais incorporada que nunca nas vidas das pessoas, os esforços das organizações para atender a essas necessidades e expectativas podem ficar aquém. “Embora alguns se refiram ao cenário atual como ‘tech-lash’, ou seja, de reação contrária à tecnologia, esse termo falha em reconhecer a dimensão em que a sociedade já usa e se beneficia da tecnologia. Mais apropriada é a análise do choque tecnológico entendido como as incongruências entre modelos de negócios e de tecnologia que não estão alinhados às necessidades e expectativas das pessoas”, aponta o levantamento.
O estudo foi realizado com mais de seis mil executivos de negócios e TI no mundo inteiro, em 2019 e contou com as respostas de outros dois mil consumidores.
Ainda de acordo com o estudo, manter os modelos de negócios vigentes pode incomodar consumidores e desengajar colaboradores, além de limitar permanentemente o potencial de inovação e crescimento. Abaixo, alguns dos recortes do estudo.
O “eu” na experiência
As empresas terão que desenhar experiências personalizadas que amplificam os atos e escolhas do indivíduo. Neste caso, os públicos passivos passam a participantes ativos por meio da transformação das experiências de mão única — que podem levar as pessoas a se sentirem fora do controle e deixadas à margem — em colaborações genuínas. Cinco em cada seis (85%) executivos de negócios e de TI entrevistados acreditam que, para competir com sucesso na nova década, as organizações precisam começar a enxergar seus clientes como parceiros.
A inteligência artificial
A IA deve contribuir de forma a complementar performance das atividades de trabalho, em vez de ser apenas um respaldo para automação. À medida que os recursos de IA crescem, as empresas precisam repensar o trabalho a fim de tornar a IA uma parte generativa do processo tendo a confiança e a transparência como questões centrais. Atualmente, apenas 37% das organizações apostam no design inclusivo ou nos princípios de design centrado nas pessoas para melhorar a colaboração entre pessoas e máquinas.
O dilema das coisas inteligentes
Suposições sobre propriedade de um produto são colocadas em xeque em um mundo que chega a um estado do “beta para sempre”. Conforme as empresas buscam introduzir uma nova geração de produtos impulsionada pelas experiências digitais, lidar com essa nova realidade será cada vez mais fundamental para o sucesso. Ao todo, 74% dos executivos afirmam que produtos e serviços conectados em suas empresas passarão por atualizações significativas ao longo dos próximos três anos.
Robôs à solta
A robótica não está mais confinada a galpões ou ao chão de fábrica. Com o 5G a ponto de provocar uma aceleração no ritmo de crescimento desta tendência, todas as empresas precisarão repensar seu futuro pelas lentes da robótica. Os executivos têm visões divergentes sobre como os funcionários devem lidar com a robótica: 45% dizem que seus funcionários devem encarar o trabalho com robôs como desafio, enquanto 55% acreditam que seus funcionários descobrirão facilmente como trabalhar com eles.