A primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central em 2020 confirmou as apostas do mercado, com a redução, pela quinta vez consecutiva, da taxa Selic. Desta vez, o corte dos juros básicos foi de 0,25 ponto percentual, para 4,25% ao ano – o menor patamar da história.
E a sinalização é de que o ciclo chegou ao fim. “O Copom entende que o atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela na condução da política monetária. Considerando os efeitos defasados do ciclo de afrouxamento iniciado em julho de 2019, o comitê vê como adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária”, afirmou o Copom, em seu comunicado.
E o cenário para 2020 pode ser bem diferente do atual. Isso porque as projeções do mercado compiladas pelo último relatório Focus, do Banco Central, apontam para uma Selic a 6% ao ano no fim de 2021, portanto, com aumento dos juros.
Como o investidor deve se posicionar diante desse ambiente?
Produtos com retornos pós-fixados, indexados ao CDI, estão rendendo cada vez menos, e o mesmo acontece com a rentabilidade da caderneta de poupança, que é atrelada à taxa Selic.
Nos últimos 12 meses até janeiro, a caderneta rendeu 4,14%. Agora, com a Selic em 4,25% ao ano, o retorno anual da poupança passa a ser de 2,98% e continua, portanto, perdendo para demais aplicações conservadoras e até para a inflação, caso a estimativa de alta de 3,40% para o IPCA neste ano se confirme.
Confira a seguir como R$ 10 mil renderiam a partir dos próximos 12 meses, considerando dois cenários para a Selic: com a manutenção do patamar de 4,25% a.a. e com uma nova redução para 4% ao ano.
Nesses exemplos, os recursos seriam investidos na caderneta de poupança ou em aplicações que rendessem 100% e 120% do CDI, como CDBs, LCIs e LCAs. Os valores já são líquidos de Imposto de Renda, considerando uma alíquota de 17,5%.
Como investir neste cenário?
Além de os juros baixos dificultarem a escolha de investimentos mais conservadores, a perspectiva de que eles voltem a subir colocam novo desafio para o aplicador brasileiro.
Na avaliação de Otavio Vieira, sócio gestor da gestora de patrimônio Taler, o investidor deve evitar títulos indexados à inflação de curto prazo e papéis prefixados de qualquer vencimento, justamente por conta da possibilidade de alta da Selic, que pode levar à desvalorização dos papéis. Quando as taxas aumentam, os preços dos papéis caem.
Vieira tem preferido títulos indexados ao IPCA com vencimentos a partir de 2028, que paguem a inflação acrescida de uma taxa em torno de 3% ao ano. Entre os papéis disponíveis para compra no Tesouro Direto, o Tesouro IPCA+ com vencimentos em 2035, 2045 e 2050 pagavam hoje taxas reais de juros entre 3,16% e 3,46% ao ano.
Eduardo Leme, diretor comercial da Claritas, diz enxergar um retorno atrativo em papéis indexados à inflação com prazos médios, de cinco a seis anos, caso do Tesouro IPCA+ com juros semestrais 2026, que paga um prêmio real de 2,6% ao ano.
Ainda assim, ele conta que a gestora de patrimônio tem promovido uma redução significativa nas alocações em renda fixa pós-fixada nos portfólios de clientes e tem recomendado o aumento da exposição a classes de maior risco, caso de fundos multimercado e Bolsa.
Em crédito privado, os papéis do tipo high yield, que embutem maior risco de crédito, também são interessantes na visão de Leme, principalmente em um cenário de novas emissões. “O mercado de crédito sofreu nos últimos dois meses de 2019, mas, em janeiro, teve uma rentabilidade positiva. Isso deve continuar, principalmente quando olhamos para o mercado brasileiro, que ainda não é tão desenvolvido”, diz.
Por conta da possibilidade de aumento da taxa básica de juros, Eduardo Akira, assessor de investimentos no escritório Vero Investimentos, tem optado por ficar neutro em títulos públicos, destinando apenas a fatia necessária para liquidez para o Tesouro Selic.
Para a parcela de renda fixa do portfólio, o assessor diz gostar de ativos isentos de Imposto de Renda, como Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio (CRIs e CRAs).
Em busca de retorno
Independentemente do perfil de risco do investidor, o consenso dos especialistas consultados pelo InfoMoney é de que as aplicações deverão buscar horizontes mais longos e que alguma parcela do portfólio deve estar alocada em ativos mais arriscados, de forma a garantir melhores rentabilidades.
Fundos multimercados são a principal aposta da Claritas para este ano – o percentual de alocação é de 18% para o investidor conservador. “No multimercado, o gestor consegue operar muito bem em cenários voláteis, porque ele está sempre ajustando posições e opera em diferentes mercados. E a grande certeza deste ano é que de teremos muita volatilidade”, diz Leme, que cita como principais riscos o coronavírus, as eleições presidenciais nos EUA e o ambiente de reformas no Brasil.
Até para o cliente mais conservador da Claritas, o percentual da carteira a ser destinada para renda variável aumentou de 5% para 9%, em novembro de 2019, e deve ser revisado novamente nos próximos dias.
Akira, do Vero, ainda vê com bons olhos o investimento em fundos imobiliários, por conta dos retornos atrativos via dividendos, da ordem de 6% ao ano, isentos de Imposto de Renda. Ele destaca, contudo, que o investidor precisa ser mais seletivo em sua escolha. “As cotas subiram bastante, então o investidor deve estudar os gestores, os ativos e buscar contratos longos e bons inquilinos”, diz.
Fonte: InfoMoney