terça-feira, abril 29

Audiência pública discute futuro do fundeio de navios e gera apreensão entre empresários, comerciantes e trabalhadores.

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A Praça Santos Dumont, no Centro de Búzios, será palco nesta quarta-feira (30/04), às 14h, de uma audiência pública que promete impactar diretamente a economia local. A sessão foi determinada pela juíza federal Monica Lúcia do Nascimento Alcântara Botelho, no âmbito da Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público Federal (MPF), que questiona o licenciamento ambiental para o fundeio de navios de cruzeiro na cidade.

Empresários e comerciantes do Centro, Ossos e bairros adjacentes estão em alerta. O turismo de cruzeiros é uma das principais fontes de receita de Búzios, movimentando restaurantes, pousadas, lojas e serviços. A possibilidade de restrições severas — que podem levar à suspensão do fundeio devido ao alto custo das soluções propostas — gera preocupações sobre a manutenção de empregos e da estabilidade econômica no município.

“Fechadão” como forma de protesto

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Como forma de alerta, os comerciantes já programaram o chamado “fechadão do comércio” durante a audiência pública. Lojas e estabelecimentos irão suspender as atividades por duas horas com o slogan: “Vamos fechar por duas horas para não fechar para sempre”. O movimento já conta com mais de 40 lojistas confirmados, segundo Vana Lopes, presidente da ACTB (Associação do Centro Turístico de Búzios).

Precedente de prejuízo

O temor dos comerciantes é justificado. Em 2023, os cruzeiros deixaram de atracar em Búzios por dois meses, o que resultou em prejuízos diretos para o comércio. A suspensão foi provocada pela sobrecarga dos píeres públicos, que também atendem escunas, catamarãs e outras embarcações. Rogério Guedom, proprietário da Casa Praia D’ecor, relatou que teve queda de até 80% nas vendas. “O público cruzeirista é vital para nós”, disse.

Propostas defasadas e custos fora da realidade

Entre os temas da audiência está a exigência de instalação de boias de amarração. O estudo técnico que fundamenta a proposta data de 2010, quando os navios eram menores. Atualmente, os cruzeiros que atracam em Búzios ultrapassam 180 mil toneladas, enquanto as boias propostas suportam apenas 6 mil toneladas. Especialistas apontam que seria necessário hoje construir fundações náuticas profundas para garantir segurança — um investimento estimado em dezenas de milhões de reais, com manutenção igualmente milionária.

Desafios técnicos e inviabilidade municipal

O especialista em logística marítima e portuária Luciano Oliveira, com 40 anos de atuação no setor — incluindo operações com navios da OTAN —, contribuiu com uma análise técnica para o debate. Segundo ele, há quatro modelos principais de ancoragem para grandes embarcações como os cruzeiros que operam em Búzios. Todos exigem estudos técnicos rigorosos, mão de obra especializada e o uso obrigatório de práticos marítimos, o que eleva ainda mais os custos operacionais.

Um dos modelos mais comuns, as boias do tipo “Dolphin”, embora aparentemente simples, têm custo inicial na casa das dezenas de milhões de reais e demandam estruturas robustas como:

De 4 a 5 boias de apoio;

Correntes de grande resistência;

De 8 a 10 sapatas cravadas no leito marinho.

Além disso, ele alerta para os impactos visuais permanentes que tais estruturas trariam para a paisagem de Búzios, contrastando com a sazonalidade da operação de cruzeiros — ao contrário de portos comerciais, como o da Baía de Guanabara, que funcionam durante todo o ano.

Outro ponto crítico destacado é o risco ambiental. As obras interfeririam diretamente no fundo marinho, em uma área que abriga o sensível Parque dos Corais, exigindo cuidados extras com licenciamento e mitigação de impactos.

“O debate em torno das boias começou há cerca de 15 anos, sem base técnica adequada, e foi evoluindo até a audiência de agora. Mas os navios mudaram, cresceram, e as soluções precisam acompanhar essa realidade”, conclui Luciano.

Temporada histórica e números expressivos

A importância dos cruzeiros vai muito além do impacto direto no comércio. Como destaca o secretário de Turismo, Thomas Weber:

“Receber navios de cruzeiro em Búzios é muito mais do que uma alegria — é uma oportunidade concreta de desenvolvimento para a nossa cidade. Cada tripulante e passageiro que desembarca aqui investe em nossos serviços, gerando renda e sustentando empregos locais.”

A temporada 2024/2025 foi encerrada no último dia 16 de abril com a chegada do último transatlântico. Búzios recebeu cerca de 100 escalas desde outubro de 2024, com navios que trazem até 5 mil pessoas entre passageiros e tripulantes. Segundo a Prefeitura, aproximadamente meio milhão de visitantes passaram pela cidade.

A estimativa é de que R$ 13 milhões foram injetados na economia local, com gastos médios de R$ 750 por visitante, abrangendo alimentação, comércio, transporte e passeios turísticos.

Setores diretamente beneficiados incluem restaurantes, lojas, quiosques, transportes turísticos, artesanato e prestadores de serviços. A movimentação também impulsionou contratações locais e gerou renda informal.

O impacto é percebido por todos, do grande empresário ao vendedor ambulante. Edario Oliveira, que vende cocos no calçadão da Praia da Armação, é categórico: “Eu dobro o estoque de cocos. O movimento dos cruzeiros é certo, é nossa garantia”.

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