Por Economia & Negócios
Faleceu nesta sexta-feira em Paris, o fotógrafo Sebastião Salgado de 81 anos.
Poucos nomes na fotografia mundial evocam tanta reverência quanto o do brasileiro Sebastião Salgado. Com sua lente sensível e olhar profundamente humano, Salgado transcendeu a arte fotográfica para se tornar uma das vozes mais impactantes na denúncia das desigualdades sociais, na celebração da dignidade humana e na defesa incansável do meio ambiente.
Nascido em 8 de fevereiro de 1944, em Aimorés, no interior de Minas Gerais, Sebastião não começou sua vida profissional atrás de uma câmera. Formado em economia pela Universidade de São Paulo (USP), ele só se aproximou da fotografia nos anos 1970, quando se mudou para a Europa. Trabalhando como economista em organizações como a Organização Internacional do Café, passou a utilizar a câmera da esposa, a também fotógrafa Lélia Wanick Salgado, em viagens de trabalho — e ali descobriu sua verdadeira vocação.

Fotografia como testemunho
O traço mais marcante do trabalho de Salgado é sua capacidade de capturar a alma humana. Seus projetos fotográficos de longa duração, como “Trabalhadores” (1993), “Êxodos” (2000) e “Gênesis” (2013), são registros não apenas de pessoas e paisagens, mas de histórias profundas, dramas silenciosos e resistências cotidianas. Ele fotografou mineiros no Brasil, refugiados na África, tribos isoladas na Amazônia e paisagens intocadas em vários continentes — sempre com uma abordagem que mistura empatia, técnica e um senso quase espiritual de missão.
Reconhecimento e legado
Ao longo de sua carreira, Sebastião Salgado recebeu inúmeros prêmios internacionais e teve suas obras expostas nos principais museus e galerias do mundo. Ele também é membro da Academia de Belas Artes da França e foi laureado com o Prêmio Príncipe das Astúrias. Suas imagens em preto e branco são icônicas e inconfundíveis, explorando o contraste, a luz natural e uma estética atemporal.
Mas talvez seu maior legado esteja na forma como conseguiu colocar o ser humano — especialmente o marginalizado, o esquecido — no centro do debate global. Suas fotografias não são apenas belas; são denúncias visuais e gritos silenciosos por justiça e compaixão.

Do ativismo à restauração ambiental
Além da fotografia, Salgado se destaca por seu compromisso com o meio ambiente. Junto com Lélia, fundou o Instituto Terra, uma organização dedicada à restauração de ecossistemas degradados na Mata Atlântica. Desde 1998, o projeto já plantou mais de 2 milhões de árvores, recuperando a biodiversidade da região e transformando um antigo pasto em floresta viva.
Uma sensibilidade transformadora
O título de “ícone” que acompanha Sebastião Salgado não é mero exagero midiático. Em uma era de imagens descartáveis, ele nos lembra que a fotografia pode ser um instrumento de transformação social. Que, através de um clique, é possível provocar empatia, indignação, esperança.
Salgado não é apenas um fotógrafo. É um contador de histórias. Um economista da emoção. Um engenheiro de memórias. Um brasileiro cuja sensibilidade atravessou fronteiras e se firmou como patrimônio da humanidade.
Sebastião Salgado é, antes de tudo, um artista da alma — e sua obra, um espelho do mundo que fomos, que somos e que ainda podemos ser.
